O crepúsculo e as formigas, Méndez Ferrín

Ana Sousa e Sara Aguilar

Alunas de Introdução à Cultura Galega na UERJ

Introdução

O presente trabalho visa analisar e comparar a obra clássica de Méndez Ferrín pertence à Nova Narrativa Galega, O crepúsculo e as formigas e o poema de Augusto dos Anjos, Versos Íntimos”. A princípio, será discorrida uma pequena introdução apresentando o autor e sua importância para a cultura galega. Em seguida, será feita uma comparação das culturas, galegas e brasileiras através da poesia.

A obra é composta por uma Introdução que apresenta ao leitor, a personalidade literária de Ferrín (p.12) “fondo temperamental imaxinativo e rebelde”, desta forma, preparando o público para a leitura vindoura e por dez relatos que tem por tema comum, a morte.

A presença do Prólogo vem explicando o título do livro, e nele há a presença da sombra, o que denota o misterioso. O real se desfaz mediante o Crepúsculo, o dia dá lugar à noite: “As sombras penetram as ruas coma algo sen corpo e fanse mestas nos ollos dos homens”. Ferrín observar a semelhança existente entre o homem e a formiga. Assim como o inseto anda sempre em fileira à luz do crepúsculo, age também o homem, encerrando-se em um mundo cristalizado, sem perceber o que está a sua volta. Sempre em um constante fluxo chamado por ele de vida.

O efeito surrealista, tenebroso e intenso dado pelo autor à obra faz com que o leitor mergulhe no desconhecido, já que não há como criar uma expectativa do que ocorrerá em cada conto, ou se existe alguma relação entre eles.

Biografia do autor

Xosé Luís Méndez Ferrín (Ourense, 7 de Agosto de 1938) é um político e escritor galego, um dos mais representativos da literatura galega contemporânea. Licenciou-se em Filosofia e em Letras, com especialização em literatura, na Universidade Complutense de Madrid.

Em relação a sua vida política, Ferrín fundou o partido Unión do Povo Galego (UPG). Posteriormente, o expulsaram e ele ingressou no Partido Galego do Proletariado e posteriormente na Organización de Liberación Nacional Galicia Ceibe. Lecionou como professor de Língua Espanhola e Literatura no Instituto St. Irene de Vigo (Pontevedra).

Xosé Luís Méndez Ferrín
Xosé Luís Méndez Ferrín

Na sua infância residiu em Ourense com estâncias em Vilanova dos Infantes, Celanova. Em Ourence, Méndez faz o primeiro curso de Segundo Grau e traslada-se depois (1949) com a sua família a Pontevedra onde termina os estudos de Segundo Grau.

Em 1955 ele e sua família trasladam-se a Vigo e é onde o mesmo começa a estudar Filosofia e Letras (Universidade de Santiago de Compostela). A partir daí, passa a ter contato com o galeguismo cultural nucleado na Editorial Galaxia em torno à figura de Ramón Piñeiro. No entanto, Méndez reclama uma nova articulação da oposição política ao franquismo e do próprio nacionalismo, e novamente será expulso, dessa vez, com outros moços, do Consello da Mocedade.

Muitos anos passaram e muitas mudanças ocorreram na vida do escritor. Obteve outras licenciaturas; serviu ao exército militar em Canárias; foi professor em Lugo até que em 1965 obteve a Cátedra de Língua e literatura Espanhola do Instituto Santa Irene de Vigo e instala-se nessa cidade.

Em 1999, indicam-lhe ao Prêmio Nobel de Literatura pela Associação de Escritores em Língua Galega. Por seu grande destaque, Ferrín foi contemplado com vários prêmios, como o Prêmio da Crítica, Prêmio da Crítica Espanhola e o primeiro Prêmio Nacional de Literatura, recebido em 2008.

Entre suas obras, podemos destacar: um livro de poemas: Voce na Néboa (1957); um livro de histórias: Percival e Outras historias (1958) e a narrativa: O crepúsculo e as Formigas (1961), entre muitas outras.

Atualmente, é colunista no jornal Faro de Vigo. Tem forte influência na sociedade galega dirigindo a revista de pensamento crítico A Trabe de Ouro, que tem influído no devir da cultura galega com a difusão de problemas e investigações sobre questões diversas com aproximações interdisciplinares e sob uma dupla perspectiva nacional e universal.

Ferrín foi membro da Real Academia Galega, porém em fevereiro de 2013, após a acusação de que estaria contratando parentes, renunciou seu posto.

Sua obra é caracterizada por traços marcantes, como a constante relação entre a realidade e a fantasia, a presença de diferentes formas de violência, a busca por uma direção em meio ao vazio, o enigmático, a presença da angústia existencial, da solidão e da incomunicação gerando a opressão e a violência, a presença frequente do “cigarro”, construindo assim uma metáfora, em relação à cortina de fumaça que o mesmo produz, etc.

Analisando o livro: O crepúsculo e as formigas

O crepúsculo e as formigas
O crepúsculo e as formigas

O conjunto da obra apresenta um ambiente taciturno, fazendo com que as expectativas do leitor sejam desconstruídas ao longo da narrativa;

A Presença da natureza “Erguinme e mirei o río. Era día grande, non había neboa” – (O Suso, p.43) transportando o leitor à situação geográfica de Galícia. Há também a “névoa” repetida em muitos relatos, remetendo não apenas ao misterioso, como também às montanhas, ao clima.

A existência de tantos aspectos atemorizadores é um traço muito típico da cultura galega, que está sempre ligada seja por mitos ou por crenças, a espíritos, seres malignos, a morte.

Ao compararmos essas marcas poéticas com a literatura brasileira, encontraremos autores com características bem similares, como o poeta brasileiro Augusto dos Anjos.

Augusto dos anjos
Augusto dos Anjos

Esse autor, conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, nasceu em 28/04/1984 no Engenho do Pau d’Arco, Paraíba, e vivenciou a época do Parnasianismo, em que se opunha ao sentimentalismo exagerado e a realidade não tinha influência nas formas e nos conteúdos, e do Simbolismo, no qual os temas subjetivos, imaginários, tinham ênfase.

Esse autor pré-modernista portanto, inovou o modo de escrever através de suas ideias modernas, da sua obsessão pela morte e da negação da vida material. Vejamos a seguir, o trecho de um dos seus poemas, nomeado Versos Íntimos:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Conclusão

Podemos concluir que os dois autores têm a mesma obsessão por retratar a morte, elementos fúnebres, a presença da noite, das sombras, da névoa. Enfim, elementos relacionados ao Crepúsculo.

Utilizando-nos da fala de Ferrín, somos todos como formigas, andando em marcha enfileirados até que a morte venha nos pegar. Ferrín inovou com a sua nova narrativa galega, assim como Augusto dos Anjos também o fez na literatura brasileira, renovando o modo de escrever através de suas ideias modernas. Portanto, observa-se que há um forte elo de ambas as culturas, laço esse, que não é por nós percebido, no entanto, muito mais abrangente do que pensávamos.

Referências

http://www.cosaslibres.com/leeronline/title=A+Nova+Narrativa+galega.+Caracter%C3%ADsticas%2C+autores+e+obras+…&doc=http%3A%2F%2Fcentrogalen.com%2Fdiscoduro%2Fpdf%2F21270248124.pdf

https://www.google.com.br/searchq=Xose+Luis+M%C3%A9ndez+Ferr%C3%ADn&biw=1366&bih=580&tbm=isch

&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=NCFhVN7_GMOmNtaggGA&ved=0CKABEIke

http://www.biografiasyvidas.com/biografia/m/mendez_ferrin.htm

http://www.brasilescola.com/literatura/parnasianismo.htm

http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/simbolismo.htm

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