Xosé Luís Méndez Ferrín e a reconstrução da literatura galega

Rodrigo Moura

Mestrando em Literatura Comparada na UERJ

 

Xosé Luís Méndez Ferrín, nasceu em Ourense  em 1938. Nesta cidade e em Vilanova dos Infantes passou a sua infância, nos anos da posguerra, num ambiente que influenciou todo o fazer literário do autor.

Aos onze anos mudou-se para Pontevedra e ali cursou Bacharelado e aprendeu com ele todo o ideário galeguista. Nesse mesmo tempo começou a escrever para a revista Litoral. No ano de 1955, já em Santiago de Compostela, assistiu as aulas de Otero Pedrayo na Universidade, fazendo amizade com outros grandes nomes das letras galegas.

Em 1958 mudou-se para Madri para terminar seus estudos de Filosofia e Letras, e nesta cidade, fundou junto com outros estudantes, o Grupo Brais Pinto cuja finalidade era o compromisso com o nacionalismo galego. Nos anos seguintes seguiu um curso de cultura inglesa em Oxford e viajou por vários países da Europa, entre eles França, Alemanha e Itália.

De volta à Galiza, colaborou ativamente na vida sócio-política e cultural da região e em 1964, participou em conjunto com Luís Soto e Celso Emílio Ferreiro, da fundação da Unión do pobo galego (UPG).

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Além do seu importante papel como cronista, crítico e pesquisador, a obra literária de Xosé Luís Méndez Ferrín canaliza-se frente à poesia e à narrativa, fundamentalmente. E justamente nesses dois gêneros, Ferrín projeta toda uma estética inovadora, mantendo-se distante da estética realista que vinha sendo quase a única opção dos escritores de postura marxista.

A sua obra é o resultado de uma espécie de assimilação marcadamente pessoal de influências culturais diversas, proveniente da literatura galega e das letras universais.

O seu primeiro livro de poemas, Voce na néboa (1975), já prefigura, de certa forma, a criação de mundos autônomos, com o decorrer incensante das coisas, a procura da essência do “eu”.

Con pólvoras e magnolias (1976) rompe drasticamente com o realismo cuja obra tem influência de autores mais novos. O conjunto de poemas discorre entre o rigor ideológico e beleza dos elementos pólvora – significando revolução, reveindicação- e magnólias – significando culturalismo, intimismo e formalismo.

Nos diversos poemas, Ferrín declara poeticamente a sua concepção dinâmica e fluente da vida, com uma imagem recorrente do rio, símbolo do futuro e da natureza. O passar do tempo deixa no autor um pouco de tristeza, posto que a fadiga existencial são as bases de sua poesia.

No que tange à obra narrativa de Méndez Ferrín, a intensidade e o elemento insólito (estranho) concedem ao autor um lugar de destaque dentro do cânone das letras galegas, especialmente em se tratando do gênero conto. Aos dezenove anos, Ferrín escreve Percival e outras historias (1958) obra composta por quatorze relatos que caminham em direção ao irreal, com a presença frequente do elemento ilusório e a presença de personagens e espaços com nomes exóticos, além da vivência de situações violentas, típicas da chamada Nova Narrativa Galega.

Em O crepúsculo e as formigas (1961), o autor explora os quadros mais obscuros da existência humana, com personagens movidos por forças estranhas que impõem um destino totalmente trágico.

Retorno a Tagen Ata (1971) trata-se de um relato breve com fundo alegórico, que inaugura a obra de Ferrín num espaço mítico, o país de Tagen Ata, no qual voltará a aparecer em livros posteriores. A narrativa relata o retorno de uma personagem exilada à Galiza, nesse sentido, a mesma vê um ambiente de miséria e tristeza advindas da guerra civil e da ditadura franquista, fazendo-nos repensar o que significa ser galego.
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Parte da narrativa de Méndez Ferrín aparece atravessada pela presença do espaço mítico de Tagen Ata: um mundo imaginário que, às vezes, se identifica com outros espaços e, ao mesmo tempo, se contrapõe à realidade histórica de Galiza e do que, em diferentes livros e relatos, se nos mostram fragmentos e personagens a ele pertencentes, o país de Tagen Ata.

A violência, o cárcere, a liberdade, o compromisso, a traição, o amor e a nostalgia são alguns dos motivos e paixões humanas que a narrativa de Ferrín explora, desde perspectivas inovadoras na sua concepção e tratamento: o aspecto absurdo, indefinido ou singular dos comportamentos e emoções revelam o caráter contraditório e polimórfico do ser humano, dentro de uma visão globalizadora da existência.

Ferrín representa essa vontade de inovação da narrativa galega, através da implementação de novos traços estilísticos na prosa: harmonia e intensidade dos relatos. Desta forma, a obra de Xosé Luís Méndez Ferrín eleva-se como uma obra aberta que precisa do concurso do leitor para se compreender o seu sentido, por mais que este parece escapar sempre de uma significação imediata e firme.

 

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